Perguntas e Respostas sobre Psicanálise
O que é a psicanálise?
A Psicanálise foi criada pelo neurologista austríaco Sigmund
Freud, com o objetivo de tratar desequilíbrios psíquicos. Esta
disciplina visa também analisar o comportamento humano, decifrar a
organização da mente e curar doenças carentes de
causas orgânicas.
Para que tipo de pessoa a psicanálise é indicada?
A psicanálise é indicada para todas as pessoas que têm uma demanda ou
questão. Uma demanda é algo que se apresenta como um enigma pessoal,
algo que não vai bem, alguma coisa que surge e que precisa de uma saída
que não se consegue encontrar sozinho. Normalmente, diante de problemas
e angústias, as pessoas reagem utilizando-se de comportamentos e padrões
de sofrimento, se colocando em um lugar de aceitação ou de resignação
deste estado. Por exemplo, frente a uma grande cobrança de trabalho,
pode-se ficar estressado. Frente à perda de alguém querido, pode-se ter
baixa estima e desânimo. A psicanálise é para aqueles que procuram uma
nova maneira de lidar com os impasses pessoais que não seja a resignação
no sofrimento.
Como funciona o tratamento psicanalítico?
O trabalho do analista consiste em, frente à demanda de cada analisando,
proporcionar a invenção de uma saída para além dos padrões fixos de
sofrimento. A cada sessão, os analisandos são desautorizados do lugar de
resignação no sofrimento, promovendo-se soluções criativas.
Qual a diferença entre tratamento psiquiátrico, psicoterápico e
psicanalítico?
A psiquiatria e as psicoterapias trabalham com a noção de que existem
pensamentos e comportamentos que estão alterados em relação a um padrão
de normalidade. O objetivo das mesmas é fazer com que a pessoas possam
encontrar ou se aproximar da normalidade definida. Em um primeiro
momento, se faz um diagnóstico, no qual as queixas apresentadas pelo
paciente são classificadas dentro categorias gerais, pré-estabelecidas,
de doenças ou transtornos mentais. Depois, como tratamento, a
psiquiatria tem se valido principalmente de medicamentos ou outras
intervenções de modelo biológico. As psicoterapias buscam garantir uma
conduta adequada através de um tratamento por palavras que permita aos
pacientes corrigir pensamentos e comportamentos alterados. Em ambas
intervenções tanto os diagnósticos quanto os tratamentos são definidos
individualmente, mas tendo como base modelos gerais estabelecidos a
partir de pesquisas com o maior número possível de pessoas. As duas
formas de tratamento se apóiam na idéia de que os problemas apresentados
são devidos a alterações na biologia corporal e ou ao aprendizado de
formas de pensar e se comportar inadequadas. Nos dois casos, a pessoa
acometida não tem responsabilidade pelo o seu sofrimento. A
responsabilidade, quando existe, é em relação ao correto seguimento do
tratamento que lhe é indicado pelo psiquiatra ou pelo psicólogo.
A psicanálise trabalha com a possibilidade de que cada pessoa constrói ,
a partir de padrões oferecidos pelo mundo, formas particulares de
repostas aos impasses ou angústias da vida. Estas tendem a fixar o
paciente em um lugar de sofrimento. Na psicanálise, não existem modelos
de normalidade a serem buscados, nem modelos de tratamentos
pré-definidos, mas, caso a caso, na presença do analista, o analisando
deve abandonar a fixação nas respostas já prontas e procurar inventar
alternativas de lidar com a sua dor, se responsabilizando por isto. A
pesquisa na psicanálise se baseia no relato singular de cada caso
tratado.
Estou fazendo uso de remédios psiquiátricos. Posso, também,
fazer acompanhamento psicanalítico?
Para ser acompanhado por um analista basta ter uma demanda para isto. O
fato de usar medicamentos psiquiátricos ao mesmo tempo é da
responsabilidade da pessoa e de seu médico. O analista pode discutir o
uso com os dois.
Quanto tempo demora um tratamento com psicanálise?
Não existe um tempo pré-definido para uma análise. Ela pode durar de uma
a várias sessões. O objetivo é que ela dure o menor tempo possível. Este
tempo é o necessário para a invenção de uma saída para a demanda inicial
apresentada. Se não houver a construção de uma nova demanda, o
acompanhamento termina aí. Hoje, análises com longa duração têm sido
realizadas por pessoas com a demanda de se tornarem analistas.
Por que não posso fazer minha análise sozinho? Por que preciso
de um analista?
Frente aos impasses encontrados no dia-a-dia, as pessoas tendem a
responder com os padrões de sofrimento já estabelecidos, conforme
esclarecido nas perguntas anteriores. Sozinhos ou mesmo com amigos e
familiares, as pessoas acabam por repetir e reafirmar estes lugares,
através de um sentimento de compaixão. Por exemplo, uma pessoa
estressada pode começar a tomar “calmantes”. As pessoas ao seu redor,
por sua vez, começam a evitar trazer problemas ou ter outras atitudes
que julguem aumentar o estresse do “coitado”. Estes dois comportamentos
só ajudam a fixar a pessoa no lugar de estressada. A mesma “veste a
roupa” de coitada, de vítima, e não se responsabiliza pelo seu
sofrimento. A formação de um analista deve permitir que ele seja capaz
de estabelecer e conduzir uma análise de forma a responsabilizar o
analisando pelo seu sofrimento, provocando a invenção de saídas
criativas. Soluções diferentes e originais em relação àquelas já prontas
para serem usadas que o mundo fornece.
Como se avalia a eficácia de um acompanhamento com psicanálise?
Como não existem padrões de normalidade a serem buscados, cabe ao
analista e ao analisando, depois de um tempo definido de análise,
avaliar os resultados obtidos. Observam se houve uma mudança em relação
à demanda inicial e, na dependência desta avaliação, estabelecem novas
direções para o tratamento. Os resultados são sempre definidos caso a
caso, de forma singular e assim são relatados para os estudos para a
formação em psicanálise.
Desde a época de Freud, o mundo mudou muito. A psicanálise
também mudou?
O mundo na época de Freud (final do século XIX, inicio do século XX) era
estruturado a partir de uma organização hierárquica ou vertical (de cima
para baixo) que colocava padrões comuns a serem seguidos. Tinha-se, de
forma clara, o que era certo ou errado fazer, tendo como referência uma
autoridade geral, como a religiosa. Diante de uma dúvida, dizia-se
popularmente para se apelar ao bispo. Nas famílias, a autoridade era o
pai, que estabelecia qual o modelo a seguir. Na teoria psicanalítica,
esta mesma organização ficou definida como Complexo de Édipo. Frente ao
mal-estar humano, à algo que não vai bem, o tratamento era reforçar a
função do pai. Para resolver os impasses procurava-se um saber que vinha
do Outro. Era o famoso “ Freud explica”.
Nos mundo atual, chamado de globalizado, não temos mais a organização
vertical da sociedade. Não existem mais padrões comuns a serem seguidos,
nem uma autoridade ou saber último para chamar. As pessoas perderam o
norte, encontrando-se “desbussoladas”. A própria estrutura familiar não
é mais a mesma, existindo vários modelos de família. A psicanálise,
neste novo cenário, tem se orientado através do conceito de Real, criado
por Lacan. A função paterna não é capaz de recobrir totalmente o
mal-estar, devendo o tratamento caminhar para além do Complexo de Édipo,
na direção de uma invenção permanente de respostas. Não há um Outro que
nos explique, não podemos ter garantias últimas em nossas escolhas, mas
devemos ser responsáveis por elas.
Leia
o Código de ética dos Psicanalistas
Fonte:
Marlio Vilela Nunes
São Paulo 20/09/07